segunda-feira, 28 de abril de 2014

COOLBOOKS quer revelar novos talentos e ser uma alternativa para a divulgação de autores portugueses.

Porto Editora lança chancela digital

«objectivo declarado é apostar em novos autores, aproveitando, designadamente, as “dezenas de originais que a Porto Editora recebe semanalmente”, alguns deles, (…), “com bastante qualidade”, mas cuja edição em papel seria arriscada.»
E ao mesmo tempo que o digital permite testar junto do público autores nos quais as chancelas tradicionais do grupo teriam hoje mais dificuldade em apostar (…)»

Esta primeira fornada de ebooks completa-se com três livros de contos (são os mais baratos, a 2,99 euros): dois volumes de histórias breves de horror, para público juvenil, da autoria de Rui Péricles (um jovem autor nascido em 1994), e Sudoeste, de Olinda P. Gil.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

abril não é só um mês...

passam hoje 40 anos sobre a Revolução de 25 de abril de 1974

A Salgueiro Maia 

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Aquele que na hora da vitória
respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
como antes dele mas também por ele
Pessoa disse


 

CAPITÃO SALGUEIRO MAIA
(João de Melo , In JL, p. 8)

 
Preciso de o dizer e repetir baixinho, de lentamente o repetir dentro de mim, baixinho e em presença dos meus sentidos, a fim de que tudo deixe de ser apenas um sonho e se transforme pouco a pouco em realidade. Sei que devo entrar de madrugada na cidade adormecida, contornar rotundas e passar os cruzamentos que me levam para o centro, e pensar que tudo o que está a acontecer-me vai a caminho da verdade, sob o imperativo de quem ordena e exige que chegue a hora de o tempo e o sonho serem só isso – tempo e sonho de um país que se perdeu de si e da sua vontade. Os homens sob meu comando não são mais que sombras de si mesmos; a arma que empunham, um engenho fora de combate; os carros, uns modestos inventos nossos, brinquedos que todos, um dia, sonhámos – na memória daquelas guerras em que também eu fui um homem anterior, em tudo diferente de mim. O que sou agora é um exercício, uma parte experiente, um resumo do que outrora fui: o guerreiro tímido e assustado que no corpo traz o medo-sonho da missão noturna que os queridos companheiros me confiaram e que comigo discutiram e planearam com o secreto e devido pormenor. Tendo-me perguntado se queria livremente embarcar na noite temerária do golpe militar, eu de pronto lhes disse que sim, contassem comigo; para trabalhos, perigos e segredos em que nem eu neles acreditasse ou deles viesse a ter memória. Eles assim fizeram.
Vim à cidade para tomar a cidade. Visito ruas e casas para vigiar o sono, o silêncio, a tranquilidade das ruas e das casas. Ocuparei posições nos bairros antigos de Lisboa, cercando as ruas baixas que vão do Rossio ao movimento secreto dos barcos no rio; pelos vultos das sentinelas e pelos passos dos agentes duplos, irei até ao fundo da Grande Noite portuguesa que dura – disseram-me os mais velhos- há 48 anos soturnos, ao longo dos quais todos fomos sendo postos de parte, fora da vontade, da raiz, da moral e da história.
E mais me disseram os queridos companheiros que devia dispersar por ali os homens certos e os comandos por mim escolhidos, a cortar o trânsito das ruas e a vigiar os barcos que na altura vogassem no rio – com o que se poria a cidade suspensa, enchendo-se de boatos e vozes dos próprios remorsos, a um tempo tranquila e em estado de angústia. Mandarei apontar ao Tejo os dois formidáveis canhões da guarnição; guardarem as esquinas os meus soldados mais afoitos e experientes; e emboscarem-se, na sombra dos muros, os rostos lívidos e determinados. Os demais, por mim chamados e escolhidos, subirão comigo às zonas do perigo, onde se cumprirá uma única de todas as vontades em confronto.
É muito simples a minha ideia: cercar o quartel de guarda nacional, dar-lhe um ultimato para que se renda e me entregue as suas armas, e depois ficar ali a encher-me de paciência, fome, desconforto, sono e frio, atento ao que der e vier. Quando me meti nos trabalhos desta missão, jurei que nela iria até ao fim. Empenhei nisso a palavra e a vida. Sabia-me sujeito tanto a perder-me como a salvar-me – sendo-me claramente dito que podia tratar-se de uma viagem longa, louca e sem regresso, feita daquele alvoroço que antecede o definitivo e fatal esquecimento. O qual só dá passagem para onde a morte é escura e irreversível. Por isso me despedi da mulher e das filhas. Disposto a morrer por elas, eis-me contra isto, para melhor ser por isto. Faz sentido a gente morrer por algo que ame; eu fui sempre, do primeiro dia da infância até esta madrugada de 25 de Abril de 1974, preparado tanto para o amor como para a morte.
«Se preciso for» - sublinharam os queridos companheiros - ,«alinhas os carros de combate no Largo do Carmo, apontas os canhões aos portados e à fachada da fortificação, dás ordem de fogo aos teus, e que haja choro e ranger de dentes lá dentro – e gritos e braços erguidos, cá fora, nos vivas à liberdade; e vozes saídas da clandestinidade para berrarem bem alto que o povo unido jamais será vencido.»
Pode ser que eu morra varrido por uma rajada de metralhadora ou pela bala do atirador solitário que ficará para contar a história. Ainda assim, morrerei a meio do maior de todos os gestos da minha vida. Mas pode acontecer o contrário de tudo isso: vir um mar de povo, erguerem-se as vozes, encherem-se de flores os canos das espingardas e não ser preciso matar nem morrer, nem tomar de assalto a corte, nem dar voz de prisão ao rei e aos seus vassalos. Dizem que em missões como esta vem sempre alguém dizer que o rei vai nu e que o reino velho, se lhe dão os ventos da agonia, logo de seus fios e cerzidos se desprende.
Preveniram-me os queridos e honestos companheiros contra a loucura e o desespero da polícia política, sangrentos cães beligerantes do ditador. Eu sei que, para eles, defender o reino não é só uma questão de brio, mas uma ideia de grandeza proporcional à crueldade e à estupidez do todo-poderoso. Vim, na condição de oficial e cavalheiro, para dar voz de prisão aos ditadores, não para os julgar ou abater. Oficial e cavalheiro que sou, entrarei nos largos portões do Carmo, e a ninguém saudarei pelo caminho até estar certo de o fazer com a dignidade que passa do vencedor ao vencido. Quando chegar à presença do todo-poderoso, acederei a fazer-lhe uma pequena mesura, uma discreta vénia de cabeça, como se ainda pudesse confortá-lo com o olhar, antes de lhe exigir que se renda e se confie aos meus cuidados. Não que goste dele ou tenha pena da sua velhice, ou me mova qualquer piedade sobre as injustiças e os danos que ao povo causou – mas tratá-lo-ei sempre por Vossa Majestade ou por Vossa Excelência. Se me perguntar de onde venho e a quem devo obediência, qual a minha condição e como me chamo, responderei a Sua Excelência que venho de Santarém, às ordens do Movimento das Forças Armadas, tenho o posto de capitão e o meu nome é Salgueiro Maia.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

450 anos do nascimento de WILLIAM SHAKESPEARE (23 de abril de 1564 - 23 de abril de 1616)

Ah, aprende a ler o que o amor em silêncio escreveu:
Só com a pureza do amor podemos ver e compreender
. (soneto 23)
Foto: Happy 450th birthday William Shakespeare -- he was born in Stratford-upon-Avon, Warwickshire, England on this day in 1564!

"Time's glory is to calm contending kings,
To unmask falsehood, and bring truth to light."
--from "The Rape of Lucrece"
IN https://www.facebook.com/WilliamShakespeareAuthor

Shakespeare viveu cinquenta e dois anos.
Sabe-se que  nasceu em abril de 1564 e que morreu em 23 de abril de 1616. Foi batizado em 26 de abril 1564 e estudiosos acreditam agora que tenha nascido também em um dia 23 de abril. Portanto, morreu com cinquenta e dois anos, no Dia de São Jorge.
Durante sua vida, Shakespeare escreveu 37 peças e 154 sonetos. Isso significa uma média de 1,5 peça por ano, desde que começou a escrever, em 1589. Enquanto mantinha um ritmo regular de trabalho ligado o teatro, também conduzia sua vida familiar, social e de negócios, administrando uma companhia de atores e um teatro.
Para além de escrever inúmeras peças e sonetos, Shakespeare era também ator e atuou em muitas de suas próprias peças, assim como nas de outros dramaturgos. Shakespeare representou para a rainha Elizabeth I e, mais tarde, para James I, que era um patrono entusiasta do seu trabalho.


Hoje é o DIA MUNDIAL DO LIVRO E DOS DIREITOS DE AUTOR

"Pensar o livro. E amá-lo desde a sua materialidade ao mistério da criação a que nele poderás assistir…"
(Vergílio Ferreira)

"O leitor também escreve o livro quando lhe penetra o sentido, o interroga" (José Saramago)

terça-feira, 22 de abril de 2014

Hoje é o DIA DA TERRA

 
Apesar de o Dia da Terra ter sido criado em 1970, apenas dois anos mais tarde é que decorreu em Estocolmo a primeira conferência internacional sobre o meio ambiente.
Em 2009, a ONU (Organização das Nações Unidas) decidiu reconhecer a importância da data e  instituiu o Dia da Mãe Terra, que é celebrado exatamente no dia 22 de abril.
Beija-Flor Google Doodle


Nesta terça-feira é, então, celebrado em todo o mundo o Dia da Terra 2014. A data é comemorada pelo Google através de um Doodle especial e animado que mostra desenhos de um beija-flor, de um escaravelho, de dois macacos japoneses, de um camaleão, de um peixe-balão e de uma medusa-da-lua. As imagens têm como objetivo lembrar a variedade de vida que existe no planeta e a necessidade de a preservar.
 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

HOJE É O DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL


Química na literatura infantil e juvenil 

 IN   http://dererummundi.blogspot.pt/


Para assinalar o dia internacional do livro infantil, partilho algumas ideias respigadas de um texto que estou a ultimar sobre a química na literatura infantil e juvenil

Máximo Gorki disse que se deve escrever para os jovens como se escreve para os adultos, só que melhor. Nesse ponto, o nosso Aquilino Ribeiro foi um mestre e estava, provavelmente, de acordo com Gorki. Quem leu o Romance da Raposa, incluindo o que Aquilino diz no final sobre a literatura infantil, percebe, com certeza, qual é a importância de haver bons livros para crianças e jovens que estimulem a inteligência e a imaginação criativa e não apenas divagações tontas. Livros que é preciso ler no original, com as palavras difíceis mas necessárias, com toda a violência e questões morais duras que possam existir (as quais, de resto, serão sempre menos más que as que nos trazem as imagens da televisão e dos jogos de video). Sobre isso não me vou alongar, basta lembrar Carmo Bravo-Villasante que chama a atenção para o facto de Collodi, no Pinóquio, ter feito mais pela pedagogia moral do que séculos de moralistas. E este último é mesmo um livro que é necessário ler no original. O meu filho mais novo deu boas gargalhadas com ele ao mesmo tempo que acompanhava os dramas, fracassos e aprendizagem do boneco de madeira, futuro menino de verdade. Todas as crianças deveriam poder fazer o mesmo. Também, para saberem que Pinóquio não foi comido por uma baleia mas sim por um tubarão!

Não vou escrever hoje sobre a química nos livros referidos acima, nem nos de Verne, Salgari, ou outros (para isso terão de esperar pela publicação do texto completo). Hoje ficarei apenas por um pequeno doce: Charlie e a fábrica de chocolate.

 
Roald Dahl escreveu Charlie e a fábrica de chocolate em 1964. Numa primeira impressão, o filme, que foi feito recentemente, segue, com a excepção de alguns pormenores pouco significativos, o texto do livro. Mas que prazer ler o livro mesmo assim (e estou a citar de novo o meu filho mais novo)!
Tratando o livro de uma fábrica de chocolate, poderíamos (mas não vamos fazê-lo) ficar pela química do chocolate (o que já não seria pouco). De facto, o chocolate, ou as preparações culinárias envolvendo o cacau, já foram considerados a bebida ou o alimento dos deuses. Os Umpa-lumpa, pequenos trabalhadores da fábrica de Willy Wonka, assim o consideram também.
 
O chocolate é um material sólido, ou melhor, uma dispersão sólida com aspecto de sólido mais ou menos homogéneo, que é, digamos sem rodeios, simplesmente delicioso! E o prazer começa com o facto de o seu ponto de fusão ser muito baixo e, por isso, se derreter já um pouco nos dedos, que é necessário lamber completa e sem medo (melhor se estiverem bem lavados), ou, o que é mesmo adequado, logo que o colocamos na boca, a cerca de 37ºC. As diferentes proporções de cacau e açúcar e outros constituintes, assim como a forma como são aglutinados, dão ao chocolate intervalos de fusão quase perfeitos para a nossa gulodice. Além disso, o chocolate tem teobromina, fenilalanina e muitos outros compostos que nos dão prazer (e a uns poucos infelizes causam alergias). Para além disso, é preciso dizer que o chocolate tem um cheiro inconfundível proveniente de um grande de número de compostos, que lhe dão esse odor característico que muitas crianças, numa altura em que os chocolates eram raros, procuravam manter vivo guardando em livros os papéis em que estes eram embrulhados.

Quase todos conhecem a história de Charlie. A sua família era tão pobre que só comiam sopa de couves uma vez por dia e, depois do pai ser despedido, só comiam meia batata por dia. E isso foi mesmo na altura que começava o inverno. Altura em que, como está escrito no livro, temos mais apetite e queremos comer coisas quentes. Aqui está um aspecto químico importante e com interesse pedagógico: a conservação de energia. Comemos para fornecer energia ao nosso corpo e nos aquecermos (se a temperatura exterior é mais baixa do que a do corpo). Se está muito frio precisamos de mais alimentos, de preferência já quentes. Os inuit precisam em média de seis mil calorias(quilocalorias, como bem sabemos) por dia enquanto, nas regiões temperadas, a média necessária é de duas mil calorias por dia. Charlie deslocava-se muito lentamente para a escola para não gastar energia e estava cada vez mais magro. Infelizmente a fome não atinge só Charlie. A fome existe e chega a cada vez a mais pessoas, enquanto outras, como as restantes crianças do livro, comem demasiado.
 
Outro aspecto interessante do livro são as pastilhas elásticas (de cuja química também não vou falar agora) de Violet. Esta mascava-as sem parar e, note-se bem, guardava a que estava a mascar colada na cama durante a noite. Esta pastilha ficava um pouco dura (como a que os alunos colam debaixo das mesas), mas depois, com uma voltas, fica outra vez bem. Aqui está um efeito interessante: a pastilha elástica como um material que amolece, ou seja cuja viscosidade varia, com a manipulação. Temos muitos exemplos desse comportamento de fluído não-Newtonino à nossa volta. Depois, a pastilha que Wonka está a desenvolver, a qual tem todos os sabores de uma refeição, recorda-nos um livro dos anos 1940 de Monteiro Lobato, A reforma da natureza, na qual Emília, uma boneca atrevida, propõe encontrar um químico que desenvolvesse um livro comestível com as mesmas propriedades dietéticas da pastilha de Wonka.
 
E já que se fala de investigação, é interessante recordar que a química, e os químicos, têm um papel muito importante no desenvolvimento de uma alimentação segura, adequada e agradável.
 
Termino com um exemplo do livro que combina investigação e desenvolvimento (I&D) com a conservação de energia. Willy Wonka teria inventado um gelado de chocolate que não fundia nem quando exposto uma manhã toda ao sol. Ora Charlie e o avô sabem que isso é impossível, sendo até completamente absurdo, mas o Sr. Wonka conseguiu! É muito pedagógica esta forma de introduzir os limites da ciência. Sabemos que é quase impossível, mas, quem sabe, o talento e os conhecimentos científicos de Wonka, ou de um químico, poderiam desenvolver um gelado que tivesse na sua composição um material (que não fosse tóxico, como o gelo seco), que ao fundir, ou melhor ainda, ao sublimar e abandonar o gelado, usasse tanta energia que ia mantendo o gelado de chocolate sólido toda a manhã...