Dia Mundial da Poesia
A não perder esta iniciativa do jornal Observador. Ideia feliz, ótima escolha.
http://observador.pt/especiais/21-poemas-dia-mundial-da-poesia/
De todos e para apresentação, propomos, com a devida vénia e reconhecimento a Inês Lourenço, pelo texto e pela composição poética de Ricardo Reis.
Inês Lourenço
“Não só quem nos odeia ou nos inveja”, de Ricardo Reis
Nos tempos que correm, apetece saborear esta ode pessoana, enquanto desafiante e sabotadora dos actuais estilos de vida e de pensamento. Vão pela borda fora os empreendedorismos, o ter cada vez mais e melhores coisas, os hedonismos vários e até os monoteísmos, que tantas guerras sangrentas proporcionam, seguindo o poema um paganismo sadio e ético. Claro, que há a questão das influências, horacianas, epicuristas, estóicas ou heraclitianas. Mas os grandes poetas são intemporais. Dão-nos sempre capacidade acrescida de respiração e de aceder a uma total liberdade, anulando as contingências do mundo.
Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
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