sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

S. Valentim - a cada um, seu coração

amor
Amor começa com a letra a, a primeira do alfabeto.
Por isso o amor está no princípio de tudo, no caos original, quando deus ainda não tinha inventado o
primeiro dia nem Eva descobrira  a maçã do desejo.
A segunda letra é um m, de madrigal, de mãe, de morte, porque o amor é sempre uma maneira de afastar a mãe, de adiar a morte.
O o não falará de ódio, nem de olvido – é um o de orgulho, de odisseia
é uma praia quando a maré está cheia
e a  areia diminui envergonhada e frágil
O r é o que resta quando o amor acaba – quantas vezes remorso, raiva, rebeldia
e a memória longínqua do primeiro dia
da primeira palavra
do primeiro beijo
Escrevo esta palavra e acorrem outras que dizem quase o mesmo. A palavra irmão. A palavra abril. E o teu nome flutuando ao vento, inteiro e limpo, encostado à brancura da cal, dormindo entre lençóis de puro linho.
Manuel Alberto Valente 









O amor é uma companhia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.



Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Alberto Caeiro





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