Como escrevo em nome desses três?
Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria
escrever. Ricardo reis, depois de uma deliberação abstrata que subitamente se
concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não
sei o quê.
Fernando Pessoa (excerto da carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais
Monteiro)
Caeiro, Campos, Reis não são mais do
que sonhos diversos (…). Ter sonhado esses sonhos não libertou Pessoa da sua
solidão e da sua tristeza. Mas ajudou-nos a perceber que somos, como ele, puros
mutantes, descolando para formas inéditas de vida, para viagens ainda sem
itinerário. Com Caeiro fingimos que somos eternos, com Campos regressamos dos
impossíveis sonhos imperiais para a aventura labiríntica do quotidiano moderno,
com Reis encolhemos os ombros diante do Destino, compreendemos que o Fado não é
uma canção triste, mas a Tristeza feita verbo e com “Mensagem” sonhamos uma
pátria de sono para redimir a verdadeira.
Eduardo Lourenço, “Fernando, Rei da nossa
Baviera”
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