sábado, 18 de outubro de 2014

Prémio LeYa 2014 atribuído ao romance «O Meu Irmão», de Afonso Reis Cabral

Ficou em 8.º lugar num concurso europeu de grego antigo, lançou um livro de poesia aos 15 anos. Revê textos e estuda literatura. É trineto de Eça de Queirós, mas recusa carregar o peso dessa influência.
A frase do pai tem anos e não sai da memória: "Hoje nasceu um escritor." Guarda-a como um elogio e assume, sem reservas, que o seu futuro passa pelas palavras. "A minha vocação é escrever." Aos 15 anos, Afonso Reis Cabral lançou um livro de poemas no auditório do Clube Literário do Porto. A casa encheu-se com a família. Baptizou a obra de 90 páginas de Condensação. Uma compilação de poemas escritos entre os 10 e os 15 anos, que não falam de amor e com prefácio da professora de Português. O que se escreve nestas idades? "Ingenuidades, mas escreve-se com paixão. Nessas idades, a poesia é mais um mistério do que outra coisa qualquer", responde. "Nunca falei de amor, é um tema demasiado confessional." Foi a primeira aventura literária. E o que passeia no cérebro ou circula pelo coração e esbarra no papel? "O início é um momento que depois é elaborado. Acabo por não ter um tema, uma trave mestra", explica. O que escreve? "Num impulso de mim, salto fora do ser e sou noutro lugar balada nocturna cantando à janela do meu antigamente." É uma das frases da fase pós-15 anos.
Confessa que, há alguns anos, abrir um livro exigia cuidado, delicadeza. "Colocava-o num determinado ângulo para não estragar." Agora não há ângulo que resista. Usa e abusa dos livros. "Rabisco, dobro as páginas e, por vezes, a lombada desfaz-se." Escreveu Como Lidar com Um Livro e aí diz com todas as letras que os livros não são sentimentais. "Se não se dá bem com eles, a culpa é sua." "Todos os livros cheiram, sobretudo, a sussurro. Sussurro de onde sai uma réstia de vento que é um verdadeiro vendaval", escreve. "Depois há aqueles mais novos que são um rol de inocência, pouco se vê, pouco se sabe, pouco se perscrute, mas todo o corpo é percorrido pela vitalidade dos sentidos. Nos vincos dos livros mais velhos cheira-se a vida e vê-se uma sala com todos os seus cantos e ouvem-se mesmo as conversas levadas ao som da música", acrescenta.
Afonso está agora a caminho da prosa, a reformular ideias, a redefinir objectivos, a amadurecer antes de uma nova aventura pelos caminhos da escrita. Está numa fase de introspecção. "Quero seguir com mais apoio. Com ingenuidade, com mistério, com descoberta, quero tentar evoluir." "Tento ser disciplinado na escrita e dentro da minha cabeça escrevo todos os dias." É trineto de Eça de Queirós por parte do pai. "A angústia da influência? Tento combater isso." E não dá hipótese. "O meio familiar é um ponto de partida e o Eça lá está. O mais importante é o esforço no estudo, na escrita", assegura. Escreve por gosto, ora essa.
 

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