sábado, 15 de novembro de 2014

"EIS A CIÊNCIA DA POESIA"


"O tempo só anda de ida.
A gente nasce, cresce, envelhece e morre.
Pra não morrer é só amarrar o tempo no poste.
Eis a ciência da poesia:
amarrar o tempo no poste."

 
Manoel de Barros,  grande poeta brasileiro, morreu no dia 13 de novembro, em Campo Grande; faria 98 anos no mês de dezembro.


O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA


Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira


                                                     


A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

     A mãe reparou que o menino
     gostava mais do vazio
     do que do cheio.
     Falava que os vazios são maiores
     e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira





    No escrever o menino viu
     que era capaz de ser
     noviça, monge ou mendigo
     ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.





Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.




Você vai encher os
vazios com as suas peraltagens

e algumas pessoas
vão te amar por seus despropósitos.

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