quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS


FALANDO DOS SOLOS 


Grande amigo pessoal do Prof. Orlando Ribeiro, o seu colega parisiense Pierre Birot, professor no Institut de Géographie de Paris, visitava frequentemente o nosso país a fim de aqui proceder a trabalhos de campo em colaboração com o seu colega português. Ainda como finalista de geologia, na Faculdade de Ciências de Lisboa, e a convite do Prof. Orlando, tive o privilégio de os acompanhar numa excursão de vários dias à chamada Bacia do Mondego, na região de Coimbra, uma experiência riquíssima que, estou certo, abriu o caminho ao que foi a minha opção no âmbito das Ciências da Terra - a dialéctica possível de estabelecer entre a geomorfologia e a sedimentologia ou, mais especificamente, entre a erosão e a sedimentação. Nesta excursão, as geografias física e humana e a geologia interligaram-se num todo multidisciplinar, harmonioso e atraente, fruto do muito saber dos dois notáveis geógrafos e ilustres humanistas. 

Nesta saída de campo aprendi a olhar o solo (do latim, solum, solo, chão, base) como um dos processos geológicos ocorrentes à superfície do planeta, com ligações muito estreitas a múltiplas disciplinas (geomorfologia, geoquímica, prospecção mineira, agronomia, economia, etnografia e sociologia, entre outras). 

Pouco tempo depois, na minha passagem por Paris, nos anos de 1962 a 1964, frequentei, com redobrado interesse, as aulas do Prof. Birot, no referido Institut de Géographie. Com início pelas 8 horas da manhã, bem de noite no frio Inverno parisiense, o nº 191 da Rue Saint-Jacques, a dois passos do Panthéon, era um formigueiro de gente, oriunda de todos os cantos do mundo, a caminho do grande auditório para ouvir o mestre. Foi nessas aulas que conheci a obra de outro grande geógrafo francês, Henri Herhart (1898-1982), La genèse des sols en tant que phénomène géologique: Esquisse d'une théorie géologique et géochimique, biostasie et rhexistasie, publicada, em 1956. Este magnífico trabalho que fez escola entre geógrafos e geólogos, despertou em mim o interesse que, à margem da minha actividade profissional, sempre nutri pelo “chão que nos dá o pão” a que Joaquim Vieira Botelho da Costa (1910-1965), professor catedrático do Instituto Superior de Agronomia (ISA), vulto maior na Ciência do Solo, se referiu, em 1960, como “Fazendo a transição entre esse manto vivo (a vegetação) e o esqueleto mineral do substrato geológico.” 

A par da modelação das formas de relevo por erosão (gliptogénese), da formação das rochas sedimentares (sedimentogénese) e da origem e evolução dos seres vivos (biogénese), a pedogénese (do grego pédon, solo), ou seja, a origem e evolução do solo, não pode, pois, deixar de ser considerada um fenómeno geológico. 

Sendo a alteração das rochas (meteorização) e a formação do solo as respostas da litosfera ao ambiente externo, e sendo a erosão a resposta dos produtos dessa alteração à atracção gravítica, a existência de um solo testemunha sempre uma situação de equilíbrio entre as taxas de meteorização e de erosão. E, assim, como escreveu, em 1980, outro nome grande da Ciência do Solo, o Prof. João Manuel Bastos de Macedo, do ISA, o solo é “uma solução de compromisso entre a meteorização e a erosão” e, como tal, fruto de um evidente processo geológico à escala do planeta. 


Recurso fundamental à sobrevivência da humanidade, o solo, surgido no Silúrico superior, há cerca de 425 milhões de anos, por força de um processo dinâmico, a um tempo geológico e biológico, alimentado pela energia solar, está cada vez mais sujeito ao impacto da actividade humana exponencialmente crescente.

Na sua imensa capacidade tecnológica, o homem pode destruir em horas um bem colectivo cuja formação necessita de milhares de anos a ser desenvolvido. Urge pois trazer este conhecimento ao cidadão, a começar na escola, onde os curricula estão longe de dar ao solo a importância científica, económica e social que, na realidade, tem. 

Pelo valor que lhe é atribuído, como um dos principais recursos naturais de que dispomos, ao lado da água e do ar e bem acima da maioria das matérias-primas minerais, o seu estudo, isto é, a pedologia1, para além da sua importância em ciências fundamentais, como a Geologia (em especial a geodinâmica externa) e a Biologia, constitui complemento indispensável em domínios do saber ligados à economia, como são, entre outros, a agricultura, a silvicultura, o ordenamento do território e a prospecção geológica e mineira. A pedologia recorre a meios que vão desde os mais simples, como seja a observação no terreno em amostra de mão, aos mais sofisticados, postos à disposição dos pedólogos, com destaque para a difractometria de raios X, as microscopias óptica e electrónica, os diversos equipamentos de análise química mineral, a fotografia aérea, a teledetecção via satélite, etc., sem esquecer os da biologia e da bioquímica, indispensáveis ao conhecimento da componente orgânica viva e morta do solo.

Na abordagem (sempre a nível básico) que me proponho fazer nos textos que se seguirão, focam-se os aspectos essenciais da ciência do solo indispensáveis à formação de biólogos e geólogos, em particular, dos professores de Biologia e/ou de Geologia, que os devem assimilar e transmitir aos seus alunos na forma e conteúdo adequados aos diferentes patamares de escolaridade.


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Todo o mês volta outra vez... é Carnaval - o nosso painel temático na BE

O Carnaval. as máscaras, a comédia, Polichinelo, Casanova, Colombina, Arlequim e tantos, tantos outros nomes, tantos rostos ocultos para
eternidade.
Personas, fábulas, o mundo maravilhosos dos humanos, nós.

(Licínia Quitério)

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Janelas para a Filosofia na Antena 2

Janelas para a Filosofia na Antena 2


Os autores de Janelas para a Filosofia falam diariamente na Antena 2 sobre as questões filosóficas discutidas no livro e não só. Trata-se de uma entrevista conduzida por Ana Paula Ferreira para o programa Império dos Sentidos, de que é produtora, e que está no ar nas manhãs de segunda a sexta, entre as 7 e as 10 horas, com apresentação de Pedro Alves Guerra.

A entrevista desenrola-se ao longo de vários dias do mês de fevereiro, com cerca de 10 minutos por dia, a transmitir pelas 8:30h. Na emissão de ontem (quinta-feira) o tema foi o dos valores, do relativismo dos valores e da crise de valores. No programa de hoje, o tema será a ética.

A entrevista é acompanhada de algumas sugestões musicais de Desidério Murcho e de Aires Almeida.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

FACEBOOK – ANIVERSÁRIO – 4 de Fevereiro de 2015



Artigo recebido da escritora e colaboradora do blogue http://dererummundi.blogspot.pt/

 A rede social Facebook nasceu em 4 de fevereiro de 2004. Faz hoje 11 anos. E se estou a falar nisto é porque, na verdade, a vida das pessoas mudou muito nestes onze anos de ligação efectiva à internet e quem não entender isto, dificilmente se adaptará às novas regras da vida em sociedade, ou seja, da vida comunitária. Haverá sempre rebeldes, más-línguas, agressivos, intolerantes, teimosos e velhos antes do tempo. Uma pessoa tem todo o direito de não fazer parte dos quase 2 biliões de utilizadores da rede social Facebook. Era o que faltava! Não tem é o direito de não querer perceber o fenómeno. Nem sequer o querer perceber! Isso aí já roça as raias do analfabetismo mais primário, da intolerância, eu diria, da estupidez. Será o mesmo que não querer entender os malefícios ou os benefícios da luz eléctrica ou da água canalizada, ou disto, ou daquilo que compõe e anima o tempo em que vivemos. O tempo em que vivemos, todos nós, é o tempo. Com tudo o que advém do tempo. Não é “o meu tempo” ou o “teu tempo”. É o tempo. Ainda que outros tivessem vivido, tivessem tido carne e ossos a compor a sua condição humana noutros anos, noutras épocas, em outras eternidades. 

 Portanto, a rede social Facebook, criada pelo jovem de então, Mark Zuckerberg (n. 1984) juntamente com outros três colegas universitários, é tão importante e eficaz nos nossos tempos como foi o avião, ou o automóvel, ou a varinha mágica, ou o elevador nos prédios, etc, etc. Negar uma realidade prática e avassaladora é impossível. E não! O Facebook não é útil apenas para dizer «eu amo você»! Há mais utilidades! Bastantes mais!

Convém, pois, do mesmo modo que ensinamos aos nossos filhos não enfiar os dedos numa tomada de electricidade, ensinarmos também os perigos, desvantagens e vantagens desta rede social. Deverá ser ensinada e aprendida como qualquer outra matéria. Obviamente que o uso disparatado, estúpido e ignorante trará, fatalmente, consequências funestas. 

Muitos parabéns ao Facebook. E que possa melhorar, contribuir para o desenvolvimento – ainda que profundamente artificial, é bom que se diga – dos povos. Mais vale conhecer alguma coisa (e se quiser aprofundar, aprofunda nos livros e nas competências) do que não conhecer nada ou quase nada, como até 2004. 

 Este é o tempo!

 Cristina Carvalho

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

"De Animais a Deuses - História Breve da Humanidade"

São 496 páginas de leitura compulsiva, informativa, fascinante. 
(Desidério Murcho, In http://dererummundi.blogspot.pt/

Nesta obra não se encontra o género tradicional de história da humanidade, geralmente bastante eurocêntrica e descrevendo quase exclusivamente pormenores da política e dos impérios. O que encontramos aqui é um enquadramento iluminante da história da humanidade, que é vista do ponto de vista do universo, como diria Sidgwick. A história de Harari abrange desde o aparecimento dos primeiros hominídeos até à previsível extinção do Homo sapiens. Mas é muito mais do que uma mera narrativa de factos biológicos, antropológicos, económicos e políticos: é uma tentativa de compreender a razão de ser das coisas. E, claro, muitas vezes essa é uma tentativa gorada, caso em que Harari expõe algumas teorias especulativas, os seus pontos fortes e os seus pontos fracos. Em muitos casos, Harari conclui que não sabemos, pelo menos para já, o porquê que procuramos. É o caso, logo no início do livro, do mistério da nossa solidão de espécie: ao longo de milhares de anos, o Homo sapiens conviveu com várias outras espécies de hominídeos, como aliás acontece hoje com as outras espécies. Subitamente, porém, as outras espécies desaparecem e ficamos apenas nós; porquê? Sabemos hoje, por exemplo, que muitos de nós temos alguns genes de outras espécies de hominídeos (temos genes de Neandertal, por exemplo), o que significa que houve cruzamento entre espécies. Mas não houve uma fusão de espécies porque se tivesse havido tal coisa, teríamos uma percentagem muitíssimo elevada de genes de outras espécies, coisa que não temos.

Harari divide a história da humanidade em três grandes períodos, que correspondem a três acontecimentos marcantes: a revolução cognitiva, a revolução agrícola e a revolução científica. Entre as duas últimas ocorre a unificação da humanidade, que deixa de estar separada em ilhas culturais, para passar a ser uma só cultura. Quando Hollywood imagina o faroeste do séc. XIX, com índios orgulhosos nos seus cavalos, dá a ilusão de uma cultura independente, o que é falso: os cavalos, por exemplo, foram reintroduzidos no continente norte-americano apenas no séc. XV, quando os espanhóis lá chegaram. (Reintroduzidos porque quando os antepassados dos indígenas norte-americanos, os primeiros hominídeos, chegaram ao actual continente norte-americano, havia cavalos, que prontamente se extinguiram com a pressão predatória humana.)

A revolução cognitiva ocorre quando os seres humanos desatam a imaginar coisas que não existem: nasceu a ficção. Deuses, demónios, espíritos, narrativas míticas, religiões, artes, surgem subitamente onde os Sapiens estão, desempenhando talvez, pensa Harari, o papel crucial de conseguir coordenar um número elevado de seres humanos, coisa que antes não era possível. Numa das muitas imagens memoráveis do livro, Harari faz notar que se colocarmos milhares de chimpanzés numa praça de uma cidade, o resultado será apenas uma cacofonia sem rumo; milhares de seres humanos, contudo, conseguem coordenar-se para se manifestar, por exemplo, contra o terrorismo. (Sobre os recentes ataques terroristas vale a pena ler o que me pareceu o mais lúcido dos artigos sobre o caso, da autoria de Yuval Harari, publicado pelo Guardian.)

O  livro surpreende a cada passagem pela simplicidade da sua linguagem, pela profundidade da visão do seu autor, e também pela verve, que põe ao serviço da compreensão de ideias profundas e por vezes difíceis. É um livro inteligente, pleno de ideias surpreendentes, de explicações iluminantes e de perspectivas novas. Desmontando sempre que pode muitas ideias feitas que hoje afogam o pensamento comum (como a ideia de que os seres humanos eram ecologicamente correctos antes da industrialização, ou a ideia de que só as relações heterossexuais são "naturais"), este livro presta um serviço inestimável ao esclarecimento da humanidade. Aconselho vivamente a sua leitura, e releitura, e penso tratar-se de um dos mais importantes livros de divulgação científica publicados nos últimos dez anos. Está de parabéns a Vogais, que soube publicar atempadamente um livro excelente.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

2015, ANO INTERNACIONAL DA LUZ


É comum a afirmação de que “não poderíamos viver sem ela” e é também tido como certo que, sem luz, a vida não existiria. Em termos científicos, “luz” abrange toda a gama de radiações eletromagnéticas, desde as ondas muito longas (ondas rádio) até às mais energéticas, correspondentes a frequências muito elevadas (como raios X e raios gama). É toda essa “luz” que será abordada no programa que se prepara para preencher o Ano Internacional da Luz.
Foi em dezembro de 2013 que a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) proclamou 2015 como o ano em que a Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) promoveria a cooperação com outras entidades para o desenvolvimento de ações de sensibilização de políticos e cidadãos em geral – a nível mundial – para a importância da luz na vida e no bem-estar geral.
Desde logo se iniciaram trabalhos preparatórios (alguns dos quais conduziram já à concretização de ações efetivas), quer na elaboração de programas diversificados e ajustados às realidades de cada país, quer na mobilização de recursos humanos voluntários para a liderança de projetos e, ainda, para a indispensável obtenção de financiamento para as componentes em que ele é indispensável.
Foram já disponibilizados alguns recursos que, gratuitamente, os dinamizadores individuais e coletivos podem usar, nos quais se contam imagens obtidas a partir de satélites artificiais que tornam evidentes as assimetrias em diversas partes do planeta (com regiões profusamente iluminadas durante a noite enquanto outras permanecem praticamente às escuras) ou ainda o facto de, na maior parte dos casos, as lâmpadas serem bem visíveis do espaço, em contraste com a raridade dos casos em que o chão é diretamente iluminado, sem esbanjamento de luz para a atmosfera.
SUPER 198 - Outubro 2014
Leia a continuação numa das nossas versões digitais:
FONTE:
http://www.superinteressante.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2857:2015-ano-internacional-da-luz&catid=33:cacadores-de-estrelas&Itemid=124